Segunda-feira, 25 de dezembro.
É Natal! “Um filho nos foi dado!', proclamou o profeta nesse dia.”
A alegria dessa noite de Natal, como fomos convidados a refletir logo no início das leituras, é profunda, intensa e capaz de movimentar o mundo inteiro. Trata-se de uma alegria que revoluciona a vida humana por meio de um encontro inusitado com um Deus que verdadeiramente vive no meio de nós.
Um Deus que se encarnou como criança em meio a uma família cristã. As trevas do sofrimento, do individualismo, do ódio, do rancor e dos traumas que assolam as vidas humanas nos conduziram ao deserto do Egito, pelo caminho mais árduo, o caminho do pecado e da escravidão.
O evangelho narra José e Maria com Jesus em seu ventre, submetidos à força, ao poder, às fantasias e ilusões que persistimos em valorizar. O grande César Augustus é símbolo daquilo que insistimos em construir na sociedade, ou seja, o que tem como propósito desunir a família.
Contudo, neste Natal, Deus tem um projeto contrário ao de César – a igreja doméstica, isto é, a família. Ele nos tirou do Egito, nos sustentou no caminho do deserto e na construção da terra prometida, ungindo tantos reis até enviar Seu Filho para nos pastorear.
Nessa noite de Natal, é essencial direcionar nossos olhares e corações para o novo Rei definitivo e eterno, que escolheu a simplicidade de uma família para nascer. Com Ele, não haverá mais Egito, nem deserto, tampouco reinos com fronteiras e exércitos. Sua presença dissolverá todo orgulho e vaidade.
O Natal nos destina à alegria revolucionária
Nessa noite, temos restaurado em nossos corações o projeto que Deus plantou quando nos criou. Fomos destinados a ser instrumentos dessa alegria revolucionária e transformadora. Ao contemplarmos a história de José e Maria no evangelho, vemos como foram excluídos e intolerados pela sociedade por fazerem o bem. Da mesma forma, entre nós, muitos ainda seguem intolerados e excluídos.
Deus favorece aqueles que escolhem seguir o exemplo da Sagrada Família. Ao contemplarmos o menino Jesus, recordado no Natal, é crucial incorporarmos o projeto da inclusão. Esse Rei, desprovido de trono, exércitos ou fronteiras, mas envolto em simplicidade e faixas, proclama um estilo de vida que restaura a ternura.
O que há de belo ao contemplarmos uma cena tão singela (pobre) como o presépio? A resposta é a união. A união da família supera qualquer dor, desde que nosso lar seja construído sobre a rocha, ou seja, desde que sejamos fiéis aos ensinamentos desse Menino Deus que se fez homem entre nós.
E não devemos nos deixar enganar pelas seduções do mundo e traumas do passado. Observem as crianças; elas não são apenas o futuro, mas constituem o presente, por representarem a certeza de que Deus tem optado por nós. Apesar das injustiças e do pecado, Deus escolheu habitar entre nós por meio do ventre de uma jovem serva.
Esse Deus agora caminha entre nós, vivendo a vida que nos propõe, para nos mostrar que este projeto é possível se voltarmos nossas vidas à santidade. A beleza refletida nos rostos de nossas crianças ecoa a beleza do presépio, e a narrativa do evangelho termina com ‘Glória’.
A Glória de Deus é a vida humana, é o homem vivente. O projeto glorioso de Deus se manifesta em nós e por meio de nós. Nossas crianças clamam no meio de nós sobre a glória de Deus. Que, nessa noite, ao celebrarmos a solenidade que nos reúne com tanta fé, recordemo-nos deste projeto de amor de um Deus que habita entre nós.
Nossos filhos são o reflexo do menino Jesus
Assim, todos nós nos tornamos um pouco pais desse menino, sendo também responsáveis por Ele. Nossas crianças, como Jesus, representam o projeto de Deus diante de nossos olhos, para que não nos esqueçamos de nossa responsabilidade como pais.
Portanto, devemos assumir nossas responsabilidades, sendo fiéis ao projeto que Deus nos confiou de promover a paz, a justiça, o amor e o perdão. Que, nessa noite, renovemos esse compromisso com a força do Espírito Santo.
Devemos nos comover com o projeto que nossas crianças representam em nosso meio, contemplando a força da vida que resiste. A cada nascimento de uma criança, apesar de tudo, percebemos que Deus não desiste de nós. Sigamos confiantes, renovando nessa noite a missão de assumirmos, no dia a dia, a vontade de Deus.
Um filho nos foi dado!’, proclamou o profeta nesse dia. Que possamos pedir a Deus que nos ajude, ampare e nos sustente no caminho da construção do Reino de Deus.
Artigo baseado na homilia de
Frei Guilherme Pereira Anselmo Jr.
Diocese de Campo Limpo,
São Paulo – SP.
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